10 de mar. de 2013

Palavras pipas

Às vezes as palavras parecem pipas.
Depois de soltas podem ser recolhidas.
Mas às vezes, somente às vezes,
quando ninguém nelas prestou atenção,
quando não foram ouvidas.
Às vezes, mesmo não podendo serem recolhidas
como as pipas
as palavras são mal compreendidas.
Se parecem com aves de rapina
quando tinham intenção de serem andorinhas
Mas, na maioria das vezes,
as linhas se rompem e as palavras se comportam
como balões incendiários em mata seca.
Às vezes, em boa parte das vezes,
as palavras pipas se tornam para-raios
e atraem para si aquilo que menos esperavam.
As palavras pipas por serem palavras ditas
costumam ser palavras malditas.

zénérso - 10.03.2013 - 13:05


9 de mar. de 2013

Hoje, depois de um bom tempo, voltei ao quintal pra ver se as melancias ainda estavam lá naquele cantinho mirrado e muito enxarcado depois de uma noite com chuvas torrenciais. Confesso que havia me esquecido das melancias. Nas minhas contas era pra ter uma dez ou mais. Me espantei que encontrei apenas cinco. Menores do que imaginei que estariam. E em lugares diferentes. Então imagino que as melancias mudam de lugar nos pés de melancia. Ou são engolidas de volta e cuspidas aqui ou ali, já que estávamos distraídos. Mas ainda existem melancias no quintal. O que me deixa com esperanças que as beberei com vodka na companhia de amigos vindos de longe.

zénérso - 22.04.2012


Barcos de lata...

As diversões dos tempos de infância eram de uma simplicidade estonteante. Tive poucos brinquedos e raros os que tinham alguma sofisticação a mais. Me lembro de um carrinho de plástico preto, que provavelmente era um Simca, que eu adorava. Mas os carros bacanas tinham uns para-barros que é uma coisa que ia além dos paralamas. Era um prolongamentos dos paralamas... os caminhões ainda têm algo assim, hoje. Eu achava que todo carro, pra ser bacana, tinha que ter aquilo. E o meu carrinho preto, meu Simca, não tinha isso. Então inventava um jeito de colar algum papel, algum durex que imitasse aquilo da melhor maneira possível. E colocava uma antena, que era pra ficar mais xique ainda. Tive um patinete que pouco usei, um pião que não sabia usar direito, umas duas ou três pipas que fabricávamos no fundo do quintal. E as bolas: quase sempre de plástico. Tive uma de capotão! Só uma! Mais tarde, acabei ganhando uma bola de basquete, mas que também era de couro e que com o tempo, e o excesso de uso, acabou ficando oval... Tinha as bolinhas de gude, que divertia toda a molecada nos jogos de biroca, que naquele tempo era só um inocente jogo de bolinhas de gude... Foi num desses jogos que aprendi um dos primeiros remédios da cultura popular. Levei uma picada de abelha e aquilo dóia demais... Um dos meninos disse que era pra passar barro no local da picada. Saí correndo buscar água que trouxe na boca e cuspi no chão de terra onde jogávamos pra fazer o barro e passar na barriga, lugar onde a bendita abelha resolveu me picar. Santo remédio! A dor passou rapidamente e nem sequer ficou vermelho. Ficou marrom, mas isso foi preferível naquela hora. Tinha os jogos de botão, que naquela tempo era só um inocente jogo com botões que eram os jogadores de futebol... Até que um dia ganhei um barco de lata! Me lembro vagamente desse barco... A lembrança que tenho é que era vermelho, e, parece-me, era feito de latas de conservas, manteiga aviação, sei lá... Pois esse barco tinha um estranho mecanismo que o fazia navegar. Na casa de meus pais tinha uma enorme banheira. Enorme para o tamanho que tínhamos. E era nessa banheira que o barco navegava. Era movido à vapor e usava ou um toco de vela, ou um pouco de álcool ou querosene que era colocado num pequeno recipiente dentro do barco. Ateado o fogo, era só aguardar que a coisa funcionasse. Não me recordo do mecanismo que o fazia navegar, mas ele navegava. E era uma coisa tola... mas eu e os sobrinhos ficávamos ali, fascinados com a mágica do barco. Tenho a impressão que eu ainda fantasiava para os sobrinhos que o que fazia o barco funcionar era um combustível que viha da lua. Mas aí a memória já não ajuda mais!

zénérso - 19.03.2012


Comidas e mesa farta

Fui criado nos rincões de Santa Cruz à base de arroz, feijão, bife, salada de alface. Tá certo que tinha por lá um bocado de fruta que me enfastiavam de quando em vez. Goiabas, que nasciam num pézinho mirrado num canto do terreno da oficina e em outro, mais robusto, ainda na mesma oficina, mas na divisa, junto à uma cerca que servia de escada para subir na goiabeira. E dali subíamos numa árvore gigante que dava uns frutinhos marronzinhos, míudos e docinhos, com uma semente no meio e que nunca soube o nome. Era uma aventura enorme subir nessa árvore e me lembro perfeitamente do meu desespero quando, depois de subir pela primeira vez nessa árvore e me aventurar por galhos altíssimos, me deparei com a necessidade de descer. Desci, conforme podem perceber, mas foi uma baita agonia. Os galhos pareciam ter crescido entre a subida e a descida, de tal forma que ficaram mais longe uns dos outros... Na rua de casa, no caminho para o clube Naútico, tinha um pé de pitanga. Na rua paralela tinha a casa da dona Alta, com um pomar enorme que ela tratava com muito carinho e, evidentemente, não deixava ninguém entrar para comer as frutas que apodreciam no chão. Mas entrávamos, mesmo assim. Era diversão pura, porque sabíamos que ela iria nos escutar e sair correndo atrás de nós, que fugíamos para dentro do clube Naútico. Lá, no clube, enormes jaqueiras que me deixavam sempre na dúvida: e se uma delas despencar na minha cabeça? Nunca aconteceu comigo e nunca soube que tenha acontecido com alguém, embora, ao contrário dos côcos de Natal, as jacas caem do pé mais cedo ou mais tarde... Na beira do Rio Pardo tinha um monte de ingazeiras e era ali, nos pés repletos de ingás, que subíamos, comíamos as frutas e pulávamos n'água para descer o rio por uns 200 ou 300 metros... Mas eram frutas que se comiam nos pés. Sem adubos, sem agrotóxicos, sem água para lavar as frutas ou a cara, mesmo quando lambuzada pelas mangas que também tinham aos montes por lá. Mas falava do arroz e feijão... Pois é, cresci assim: muita fruta no pé, e pouca variedade de comida à mesa. No máximo tinha lá o macarrão com frango aos domingos. Ou lasanha e frango. Quando vim pra cá estudar, fui aprendendo que na mesa outra coisas iam bem. Mas aprendi isso no dia em que, com uma baita fome, chegamos na república e na geladeira tinha um prato de arroz de transantontem e um ovo para dividir em três. Um dos amigos tinha lá seus dotes culinários e, sabedor que no quintal tinha um pé de chuchu, foi até lá, colheu logo uns oito ou dez chuchus, refogou-os, misturou o arroz e o ovo e fez um delicioso rango que até hoje me lembro do sabor. A fome nos ensina que qualquer alimento é bom. Que toda mesa farta deve ser enormemente agradecida. Que toda comida deve ser dividida, que não pode sobrar. Naquele dia, na Cardoso 1023, juntou gente pra dividir com a gente aquele ranguinho simples, mas bom pra chuchu!

zénérso - 19.03.2012


Tomatinhos cagados

Ah... os tomatinhos! Essses apareceram na outra casa. Do nada nasceu um pé desses tomatinhos míudos num canto de parede, numa fresta entre o chão e um pilar. Ali não era lugar pra nascer nada que não fosse uma praga qualquer. Tiririca, quebra-pedra ainda vá lá. Mas nasceu um pé de tomate. Nasceu, cresceu, floresceu e nos forneceu uma quantidade enorme de pequenos tomates que acompanharam os almoços e jantares que a mulher tão caprichosamente fazia, já que eu só sei fritar ovos, cozinhar ovos, e bulinar nos meus ovos... Mas pés de tomate são coisas que nascem, crescem e morrem com relativa rapidez. E o tal pé de tomate que nasceu naquele lugar estranho cumpriu sua jornada na vida. Não sei porque cargas d'água aquele pé de tomate nasceu ali. Dizem os biólogos que os pássaros são os responsáveis pela disseminação das plantas, quando comem os frutos e saem cagando as sementes mundo afora. Não sei de pássaros que comam tomates, mas por certo algum há, já que o pé de tomate nasceu ali sem nunca ninguém ter plantado. Ah! Os pássaros também espalham os carrapatos... mas isso é outra história. Após cumprir a jornada, o pé de tomate secou e por um bom tempo ficamos sem os pequenos frutos. Mas se algum pássaro comeu mais tomates ou se foi alguma das cachorras eu não sei. Sei que nasceu mais um pé de tomate num canto mais inusitado, agora na frente da casa, numa fresta entre o piso cimentado e a mureta da varanda. Ali dois pés de tomate nasceram em ocasiões diferentes e ambos cumpriram seu ciclo. Colhemos e nos fartamos de tomates e quando mudamos pra nova casa trouxemos uma quantidade boa pra cá. Aqui, quando vi aquele chãozinho mirrado enxarcado e que acabou sendo bastante cagado depois, não resisti e joguei ali um punhado dos tomatinhos. O mato que cresceu sufoca as plantas de tomate de tal modo que essa é a plantação que não anda dando muito certo. E, dizem, os tomates não gostam dos chãozinhos enxarcados. Dessa vez não terei desses frutos pra oferecer!

zénérso - 19.03.2012

Coisas estranhas acontecem em casa... uma travessa de lentilhas ficou esquecida na geladeira. Depois de um tempo, as lentilhas brotaram mesmo sob baixa temperatura. Então, dentro da travessa, tampada, dentro da geladeira, ligada e, portanto, com baixa temperatura, a lentilha insistiu em nascer. Acho que aquele monte de plantas merece uma chance. Vamos jogá-las naquele chãozinho mirrado, enxarcado e cagado onde nasceram as melancias, os girassóis e um monte de tomatinhos... tomatinhos que eu me esqueci de contar a histórias deles...

zénérso - 18.03.2012


Naquela porra de antena parbólica do fundo do quintal - não serve pra quase nada aquilo - pousou um periquito australiano ou africano, sei lá... Fugido da loja de animais - pet shop!? - ali da esquina. Relata-se que esses bichos, por terem nascido em cativeiro, terão poucas chances de sobrevivência soltos numa natureza que nem é deles. Foram trazidos de lá da África ou da Austrália para serem vendidos livremente aqui, já que aqui não podem ser vendidos os bichos da fauna brasileira. Então importamos bichos de outras faunas. Mas acho que lá na Austrália também fazem isso. Importam bichos da fauna brasileira e os vendem livremente já que lá não podem vender bichos da fauna australiana... Seguimos enganando a nós mesmos enquanto os bichos são capturados, contrabandeados e vendidos livremente em outros lugares no mundo. Os nossos por aí e os daí por aqui. Deveriam proibir a fabricação de gaiolas. Deveriam proibir a captura e a venda de qualquer animal... E os animais humanos deveriam parar de consumir esse tipo de produto. Mas vá explicar para essas bestas irracionais a lógica da vida! Complexo demais!

zénérso - 18.03.2012


Lá naquele chãozinho mirrado, enxarcado e cagado, além das melancias, dois girassóis insistiram em nascer em meio ao mato alto. Com muito esforço botaram o pescoço pra fora, só a ponto de mostrar a flor pra que ela, insistente em nascer e crescer naquele ambiente, espiasse o sol no seu caminho monótono de todo dia. Foi assim, do dia que floriram até o dia que secaram... Insistentes, devem gerar outras flores com as sementes que espalharam. Algumas maritacas apareceram, comeram algumas poucas sementes, por certo também cagaram ali naquela chãozinho mirrado e prometeram voltar quando os novos girassóis aparecerem. Sigo acompanhando a vidinha no fundo do quintal.

zénérso - 18.03.2012


Plantado melancias

Agora tenho uma plantação de melancias. 4 ou 5 frutas insistem em nascer num chãozinho mirrado e enxarcado, mas bastante cagado pelas cachorras.
O adubo deve ser bom. Uma delas já está do tamanho de uma bola de tênis. Outras do tamanho de uma bola do saco. De bolas de gude. Se é que me entendem. Se tudo correr bem, em um mês colheremos as melancias. E se a colheita for boa, oferecerei aos amigos.


zénérso - 16.03.2012

O ódio é um amor imenso, invertido!

zénérso - 23.04.2012


Bendito espírito da poesia
tome meu corpo
sou teu cavalo
Escreve por minhas mãos
tira de mim o tormento
a angústia
as falas presas
Apressa-te!
Meu tempo é curto!

Zénérso - 11.12.2012 - 19:13 h


Poeminha vestibulesco!

As turmas de Exatas são falhas.
Algumas são feias, outras tantas tortas.
Algumas têm espinhas, outras mãos repletas de pelos.
Algumas... cravos aqui e ali e, com o tempo,
outras terão pelos nos ouvidos.
Algumas têm joanetes, outras nem usam cotonetes.
Algumas têm cheirinhos específicos.
Outras peidam no meio da sala e acham isso normal
por mais que as julguem cínicas.
As turmas de Exatas são repletas de falhas.
As turmas de Exatas são Humanas!!!

Zénérso - 02/02/2013 - 13:12


Estou sofrendo de falência múltipla dos bolsos...


zénérso - 14.02.2013


Tenho certeza
de que ainda sou capaz de amar
já que não odeio mais ninguém.
Cansei de odiar.
Semeei muito ódio de muita gente e carreguei mágoas
como quem carrega jarros d'água na cabeça em tempos de seca.
Os tempos continuam secos.
Os jarros também secaram antes que eu os quebrasse
pelo caminho cheio de pedras.

Difícil sustentar esse vazio!

Zénérso - 23.02.2013 - 12:15


Viva!

Confesso que fiquei triste com a morte do Hugo Chavez. Mas talvez o que tenha me deixado mais triste foi a enorme quantidade de sandices que ouvi a respeito dele e do povo venezuelano. Não conheço a Venezuela. Não vivi a história de Chavez na presidência daquele país. Mas vi muitos atos dele onde contestava o poder imperialista dos americanos e europeus que, repletos de soberba e julgando-se donos do mundo, sempre quiseram - ainda querem - que fiquemos na nossa posição de espectadores do assalto de nossos recursos. E que prestemos o serviço de escravos para extrair nossos tesouros colocando-os nos porões dos seus navios. Há quem ainda ache lindo o rei espanhol ter mandado Chavez calar-se. Como outrora mandaram seus exércitos calarem os incas e maias... Não conheço Chavez, repito. Não sei se o povo venezuelano era feliz com ele ou não. Sei de alguns números que refletem que não é possível que a imensa maioria dos venezuelanos tenham sido manipulados por tanto tempo. Pergunto-me porque um tirano colocaria seu governo em cheque em 19 plebiscitos. Um tirano não perguntaria nada ao povo. Tudo bem, essas votações poderiam ser fraudadas. Afinal, se até Busch se beneficou de uma fraude eleitoral, porque Chavez não se beneficiaria logo de 19 fraudes? O tal tirano aumentou em 16 vezes o número de médicos na Venezuela. Pediu - e obteve - ajuda cubana para isso. Erradicou o analfabetismo na Venezuela. Diminuiu a pobreza. Baniu da Venezuela empresas que só traziam mal à população - a coca cola foi uma delas. E não venham dizer que isso é tirania. Isso é cuidar da saúde do povo, já que a coca cola causa inúmeros males. Se não me engano baniu a mcdonalds também... Os motivos talvez tenham sido os mesmos, já que o que servem naquele rede causa, no mínimo, obesidade. Não é um bom produto. Não deve mesmo existir. Após o furacão Katrina, Chavez mandou - a Venezuela ainda manda - óleo para calefação para ajudar o povo pobre americano que sofreu com aquele desastre natural (diga-se que ocorreram muitos casos de corrupção e sumiço de dinheiro destinados àquela população. Enquanto os americanos democratas se locupletavam no dinheiro público, a Venezuela do tirano ajudava os americanos pobres. Que ironia! Sim! Há pobres nos EUA. Os que foram afetados pelo Katrina eram, na sua maioria, pobres e negros) Esses são alguns dos números que sei que Chavez promoveu na Venezuela. E isso talvez seja mais do que todos os outros presidentes daquele país tenham feito antes. Poderão dizer que isso não pode torná-lo um mártir ou um mito. Pode ser. Mas se ninguém nunca fez nada pelo povo e um cara aparece e faz um pouco, esse pouco de repente é muito pra quem recebeu. E da visão desse que recebeu, ter sua vida melhorada pode ser consideravelmente significante. Pra essas pessoas ele virou um líder, um mito, um mártir. Aqueles que nunca fizeram nada até agora não podem reclamar. Bastará que surja outro que faça mais, que todos se esquecerão de Chavez. Ou o deixarão na História com um papel menor do que o que tem nesse momento em que entra nela. Coisas semelhantes acontecem no Brasil. Fomos governados por um sem número de presidentes preocupados com meia dúzia de famílias. Aí chega um presidente que pode até ser chegado na cachacinha (outros tantos eram chegados na mesma coisa ou em coisas piores!), que é semi analfabeto, que mal sabe falar e que transforma o país em oito anos. Foi pouco. Tenho absoluta certeza de que o que Lula fez foi muito pouco. Mas nunca ninguém tinha feito tanto! 40 milhões de pessoas subiram de classe social. 16 milhões deixaram a linha da pobreza extrema. O país subiu em todos os critérios de avaliação internacional. O desemprego diminuiu, mesmo enfrentando crises severas que o neoliberalismo esparramou mundo afora. O mesmo neoliberalismo que vendeu - ainda vende - nossas empresas e riquezas sem que nada de bom pudesse nos acontecer. O número de universidades federais aumentou. As universidades federais melhoraram. E os bancos continuam com seus lucros enormes... coisa que podia ter diminuído em benefício de mais gente Brasil afora. Foi pouco. Eu queria mais. Queria melhora significativa na cultura e educação. Queria melhor atendimento na saúde. Queria uma saúde cada vez mais gratuita. E essas coisas que quero e que ainda não aconteceram, talvez seja semelhante ao que muitos venezuelanos ainda querem. Mas ninguém havia feito tanto pelo povo venezuelano, ninguém tinha feito tanto pelo povo brasileiro, quanto Chavez e Lula. Mas foi pouco. Lá e cá. Por isso acho que precisamos continuar atentos. A quantidade de hipocrisia que esparramam pela rede e redes todo santo dia é para nos convencer que devemos mesmo continuar a ser pequenos. Que devemos continuar com nosso papel de humildes lambe botas dos poderosos de plantão. Devemos continuar achando que todos aqueles cursos que as empresas patrocinavam tempos atrás - patrocinam ainda? - e que nos ensinavam a trabalhar "direito" - 5S, qualidade, gestão de pessoas, etc etc etc - e que enriqueceram um sem número de falantes motivadores, que aqueles cursos realmente estavam certos. Não podemos lutar por nossos direitos. São nossos direitos que oneram as empresas. É isso que impede que elas sejam melhores, mais competitivas. Continuemos a acreditar nessas histórias. Temos que defender nossa empregabilidade. É isso que os hipócritas querem nos fazer acreditar todo santo dia. Eu prefiro acreditar que Chavez foi um bom presidente. Provavelmente o melhor que a Venezuela tenha visto até agora. Prefiro acreditar que aquela multidão que tomou as ruas de Caracas não estava ali por serem manipulados. Não é possível isso. Prefiro acreditar que Lula foi o melhor presidente que o Brasil já teve. Os números de lá e de cá me levam a acreditar nisso. Mas foi pouco. Muito pouco. Tem muito o que ser feito. E se isso que digo é a cartilha mofada do PT, que viva essa cartilha! Embora eu não seja petista. Quero apenas uma democracia plena. Mais forte do que essa em que vivemos. Quero que o povo realmente tenha controle sobre todas as coisas. Sobre os políticos que nos governam. Sobre os polítcos que legislam em nosso nome. Sobre o judiciário que deve ser isento. E justo. E sobre a imprensa que não pode ser mais um partido político. Que tenhamos um país onde o povo seja soberano. Onde os cargos não sejam vitalícios. Onde as aposentadorias sejam por exercíco pleno e continuado de suas profissões e não por meros 15 minutos numa cadeira de legislativo, executivo ou judiciário. Que todos esses cargos sejam eletivos. Que esses mandatos sejam curtos. Que não haja mais do que uma reeleição. Acho que não viverei o suficiente para ver isso. Até porque, vendo o que vejo hoje em dia, acho que estamos muito perto de uma forte tirania fascista. Que Deus nos livre disso! E que mantenha os lulas e chaves vivos dentro de nós! E os fidéis, bolivares, guevaras, marias da penha, chicos mendes, chicos buarques, e todos aqueles que um dia lutaram e ainda lutam e todos aqueles que lutaram e morreram em nome da liberdade e da democracia. Viva Chaves! Carajo!!!

Amigos de Menos

Já nem me lembro mais
quanto tempo faz
nem lembro em que esquina
eu reparei nas pernas
daquela menina
Ela era menina
Eu era menino
e faz tanto tempo
que eu não me lembro mais

Lembro seu nome
Lembro sua cor
E tenho uma vaga lembrança
desse cheiro
    que era quase de infância
tamanha distância que me vejo dele agora

Já nem me lembro mais o endereço
Não sei onde mora
Não sei se ainda existe
Mas temo que as pernas não sejam mais bonitas
como outrora

Tanto tempo passou depois daquela esquina
meus amigos se perderam na margem direita do rio
e a correnteza anda tão forte
que eu temo me afogar tentando me manter na outra margem
Na verdade já não tenho mais tantos amigos
eles se foram iludidos por alguma droga maldita
palavras

Como é difícil manter-se livre
Meu coração anda atormentado
me sinto cada vez mais escravo das palavras ditas
constantemente repetidas
por tolos filósofos contemporâneos
e não sei quanto tempo tenho
até ficar totalmente acorrentado
Queria poder ter parado o tempo
queria que aquela pureza que carregávamos nos corações
e sonhos
ainda estivem por aqui
Já não lembro mais
quanto tempo faz
quanta estrada me separa
daquela menina
Tenho cada vez menos amigos!

zénérso - 09.03.2013 - 13:04