29 de out. de 2007

FIM

Palavra que assusta

Embora fim nem sempre seja.

Às vezes começo,

Outras...

Recomeço.

Fim da infância,

Começo da adolescência,

Juventude,

Vida.

Fim da faculdade,

Começo de uma carreira.

Fim do namoro,

Casamento.

Fim da gravidez,

Monte de filhos.

Fim do amor, do tesão,

Começo das brigas,

Desentendimentos,

Traições,

Iras.

Fim do casamento,

Recomeço.

Difícil, penoso,

Tormentoso,

Às vezes.

Outras, não.

Fim da carreira,

Aposentadoria,

Contemplação,

Agonia.

Fim da vida?

Renascer!

Quando idealizei o Brogado, imaginei muitas coisas.
Nunca esperei demais.
Mas esperei mais.
Achei que, dessa vez, mais gente leria, já que mais amigos leitores tenho.
Mas quando escrevo só pra mim, praticamente, não preciso publicar na internet.
Não compartilho das idéias de alguns que querem ter perfil no orkut para terem 2825 "amigos", 185.431 "recados" e coisas do gênero.
Nesses quase 60 dias tive um único leitor assíduo e "comentarista exclusivo", a quem agradeço demais a força e o apoio.
Uma amiga visitou com muita regularidade o blog. A quem também agradeço muito...
Mais ninguém.
Isso baseado nas informações que recebo do sitemeter - ferramenta de controle com a qual sei o horário, o tempo de permanência no blog e o endereço IP de quem visitou o blog.
Pelo endereço IP sei o provedor, a cidade, o sistema operacional utilizado pelo leitor e, até, a resolução de tela utilizado pelo dito cujo.
Se o sitemeter estiver certo....
Fico parecendo aquele candidato a deputado federal mineiro que teve apenas um voto. O próprio. Nem mulher, nem filhos votaram nele. Divorciou-se!
Eu, pelo menos, acho que teria três votos... contando o meu, evidente.
Um beijo fraterno, muito, muito, muito obrigado...

Ednelson

25 de out. de 2007

Tenho a noção exata:

Na minha vida sempre errei na medida.

Exagerei no açúcar,

Pesei a mão no sal,

Amei demais

E a dose do ódio

Não foi menor.

Foram sentimentos de toda ordem.

Dos melhores

Aos que devem ser evitados

A qualquer custo.

Todos eles praticados

Com dose exagerada.

Mão pesada.

Pra cada erro de medida,

Também hoje sei,

Sem nenhum dó

Nem dúvida sobre o peso,

Sei que sou eu quem paga o preço.

Não poderia ser de outra forma.

Se mágoas causei,

Lamento.

Criamos inimigos mesmo sem querer.

Mas eles,

Ao menos,

São mais sinceros do que muitos que se dizem amigos.

Sei,

No entanto,

Que embora não pareça,

Vivi intensamente cada momento

Sem que isso significasse

Aventuras arriscadas no meio do que resta da Mata Atlântica,

Numa praia deserta do Hawai,

Numa onda gigantesca no meio do Pacífico,

Um mergulho entre tubarões da Austrália,

Um bungee jump em plena Paulista.


Exagerei na dose sem fazer pose!

24 de out. de 2007

Salvo da Fogueira - 7


no fundo do quintal o lixo espalhado as frutas podres os restos
de comida os papéis higiênicos com merda com sangue menstrual ado com porra no fundo
do quintal no meio das bananeiras entre as moscas que fazem o banquete
no lixo no meio das bananeiras um menino e uma menina descobrem
suas diferenças e brincam com elas dura diferença funda diferença
fofa diferença molha a mão um grito contido risadas no fundo
do quintal enquanto a mãe se mata no tanque cheio de
roupas da semana do dia da noite com a cara molhada
de suor de sabão enquanto no fundo do quintal a
criança remexe no lixo come laranja podre com
moscas com larvas com prazer de criança
enquanto na sala o pai lê o jornal arrota
alto mexe no pau coça o saco e grita
com o gol do corinthians assusta a
menina no meio das bananeiras
que goza sem saber direito do
gozo gostoso assustado
como o primeiro gozo
saboroso
comer.

(1983)

Salvo da Fogueira - 6

Voltar aos Dezessete

Foram tantos os sonhos
foram tantas as lutas que apareciam no caminho
eram tantas as esperanças
que jamais acreditei que um dia
chegássemos aqui como se nada tivesse acontecido.
Sem sonhos
sem lutas
sem esperanças
e sem ter colhido
ao longo de todo esse tempo
os louros de algo que pudesse nos embriagar
nos alegrar.
Os louros de uma simples vitória.

Depois de todo esse tempo
chegamos a um ponto pior do que aquele onde estávamos quando começamos.
Não temos mais a ilusão de que amigos existem aos montes
como antigamente
não temos mais sonhos
e nem sequer sonhamos que um dia alguém verá o mundo
como antigamente sonhamos.
Não temos mais lutas
e nem temos espírito de procurá-las
como mercenários
que antigamente éramos
Depois de todo esse tempo nos deparamos sós.
Não temos mais maos, lenins, trotskis,
não acreditamos mais na esquerda
nos deparamos com o caos
a direita no poder
e o país na mais absoluta merda.
Depois de todo esse tempo,
se adivinhássemos que chegaríamos a isso
talvez não tivéssemos fraquejado
talvez não tivéssemos nos embriagado tanto
com os nossos sonhos.
Talvez não tivéssemos acreditado que
se qualquer coisa desse errado
poderíamos voltar aos dezessete
e recomeçar.

Nós nunca tivemos coragem!

(1994)

21 de out. de 2007

A graça, de graça!

Perdi a graça!

Não sei em que canto da casa,

Nem sei se foi na rua

Ou em alguma praça.

Não sei se o vento levou

Ou se virou comida de traça.

Sei que perdi a graça.

Não a graça de viver

Que essa, se se perde

Morre-se!

Mas perdi outra graça.

Perdi a graça da poesia.

Perdi a graça da música.

Já não sei mais se o que escrevo

Tem algum sentido

Alguma verdade.

Se o que conto em poema

Deveria mesmo ser tema

De algo que se conte

Uma duas ou dez vezes...

Talvez eu a ache

Como outras vezes perdi

E achei.

Talvez

Por alguma razão desconhecida

Me sinta de novo impelido

E possa dizer coisas que tenham sentido

Talvez incorpore

Novamente

Aquele espírito amigo

Que outras vezes me fez escrever

Até lá,

Sigo aqui

Exercitando a gramática

Brincando com rimas

Achando palavras

Rachando lenha

Até que você venha

E me deixe repleto, completo.

De graça!

17 de out. de 2007

O tema e o poema

O tema: SÉQUISSO!

Pedro

é menino peralta

que fuça

corre pula e salta.

Pedro não pára.

Tudo que faz

é com exagero.

Mexe

remexe

grita

e canta

sem nenhum esmero

Pedro

é agitado

hiper ativo

exageradamente vivo

como se quisesse

compensar alguma perda

recuperar um tempo perdido

Na cozinha

entre saltos gritos e cantos

Pedro derruba a água no chão

Ri

Um riso incontido

achando graça

em tudo que graça não tem

Como se fosse feitiço

A mãe se descabela e grita:

Pedro! Séqu'isso! Séqu'isso!

Ele?

Ri!!!

OVO

A grande vantagem da poesia

escrita no computador

é que facilita ao poeta

nunca terminá-la.

A poesia está

sempre

em constante fabricação

e o poeta se torna

então

um verdadeiro artesão

com a vida facilitada

Escreve, reescreve

acrescenta vírgulas

muda rimas

as acha e as perde

reflete

pondera

reitera o não dito

e a poesia que hoje foi lida

amanhã não é mais

Terá que ser de novo

e de novo

e de novo

Nova e Ovo!

Fusos confusos!

Vida moderna

capitalismo selvagem

ambições pessoais

desejos confundidos

propagandas intensas.

Nos ofuscam os olhos

desamores ou

amores mal vividos

Confusos iguais

quando

(na longa estrada da vida)

os rumos que foram diversos

em versos se encontram

A vida moderna

necessidades básicas

nos confundem.

Embora

no mesmo lugar do planeta

com fusos iguais

não nos achamos

nem nos achemos.

Melhor não falarmos sério.

Melhor não levarmos tudo tão à sério.

Melhor o imaginário.

Já levamos tudo assim

(já levamos muito)

e não foi bom.

Cada qual do seu jeito

cada um a seu tempo

carregou um fardo

Sofreu suas dores

penou (pena!) com sua cruz

(Não me dê conselhos

que eu te dou carinho).

Fica assim:

(embora não seja isso que queira)

já me sinto melhor

o coração mais leve

e alegre

flutuando pelas ruas

com fusos iguais!

O tema e o poema

(AINDA) A merda!

Propus um tema para um poema

Esperei amor

Dor

Muito embora

Já diria Monsueto

Pra que rimar os dois?

Mora na filosofia, Poeta!

Esperei carinho garota passarinho

Orvalho chuva e gota.

Calor!

Mas

Já que lancei o desafio

Deveria esperar mais.

Palavras xulas, obscenas

Sem nenhum pudor.

Esperei buceta (Como todo dia)

Espero!

Esperei punheta

Que é a solução pra falta da primeira

Da segunda

Enfim

De domingo à sexta

Mas

afinal

Quando vem a sugestão

Que faço eu com a palavra

Que mal rima tem?

Ranco da escova a cerda?

Me descabelo e despenteio?

Onde está a inspiração que me deserda?

O que acontece com minha mente

Que de repente

Ficou lerda?

Então entrego os pontos

Pois não encontro rima

Pra essa merda de Merda!!!

Um tempo

Foi um tempo.
Meio que sem querer, ou muito sem querer. Mas foi um tempo.
Nem sei dizer ao certo o que foi, mas fiquei distante do Brogado mais tempo do que pretendia ou queria.
Peço desculpas, então, à musa inspiradora, aos poucos leitores assíduos e aos inassíduos.
Estamos de volta.

12 de out. de 2007

O tema e o poema

O tema: MERDA


Morena
do zóio verdi
da anca larga
da fala mansa

Tem uma cabeça
distrambeiada
e sempre fala
o que dá na teia

Mas tem
um lábiu doce
que mais parece
o
mér dabeia!

11 de out. de 2007

Salvo da fogueira - 5


A única coisa que posso dizer
depois de tanto tempo calado
é que o mar em que navego
não está mais revolto que o meu coração cansado.
O que posso dizer não lhe acrescenta nada
mas digo por uma questão de desabafo.
Meu coração hoje tem mais calos e cortes
mais feridas abertas que ousara imaginar.
Hoje carrego mais revoltas mais medos mais ódios
mais sede de vingança
do que propriamente alguma coisa chamada esperança.

O que existia de verde nos mares de outrora
ficou perdido em algum porto de ilusões
ou o tempo se encarregou de mudar de cor
de apodrecer sem amadurecer
de derrubar do galho
de escarrar na cara
de cortar
com faca sem fio.

A única coisa que posso dizer
depois de tanto tempo calado
é que meu coração
novo
anda cansado
velho
e já não acredito mais nessas coisas banais
que os amigos
que me parecem distraídos
ainda ousam acreditar
e bebemorar por tudo
ou nada disso.

(82)

9 de out. de 2007

Idéias Alheias

Não tenho idéias próprias.
Copio-as todas.
Sem nenhum medo ou pudor.
As uso do jeito que quero,
pelo menos.
Assim, sendo sincero,
espero que você não se ofenda
por encontrar, aqui ou ali,
idéias tuas ou de outrem.
Pego as idéias de quem as tem!
Eu não tenho nenhuma.
Sou um pirata de pensamentos alheios
um tradutor de anseios
um maluco sem jeito ou conserto
um coitado que pensa.
Que pensa que é poeta.
Na verdade, um proxeneta.
Então
não bobeie com essas idéias perto de mim...

Ainda a carta de Pero Vaz Huck

Ensaiei umas duas ou três vezes comentários mais pontuais à carta de Huck. Mas quase vomitei no teclado do computador, tamanhas asneiras que o cara diz em seu texto.
Acho que nem vale a pena.
Xápralá...


Captado nas conversas...

...Não preciso do conselho de ninguém.
Se tem algum para dar, guarde-o!
Aquilo que é bom para você pode ser um veneno para mim.
Prefiro e, às vezes preciso, da solidariedade dos teus ouvidos...

TIRE AÍ SUAS CONCLUSÕES...

A CARTA DO LUCIANO, O HUCK.

LUCIANO HUCK foi assassinado. Manchete do "Jornal Nacional" de ontem. E eu, algumas páginas à frente neste diário, provavelmente no caderno policial. E, quem sabe, uma homenagem póstuma no caderno de cultura.
Não veria meu segundo filho. Deixaria órfã uma inocente criança. Uma jovem viúva. Uma família destroçada. Uma multidão bastante triste. Um governador envergonhado. Um presidente em silêncio.
Por quê? Por causa de um relógio.
Como brasileiro, tenho até pena dos dois pobres coitados montados naquela moto com um par de capacetes velhos e um 38 bem carregado.
Provavelmente não tiveram infância e educação, muito menos oportunidades. O que não justifica ficar tentando matar as pessoas em plena luz do dia. O lugar deles é na cadeia.
Agora, como cidadão paulistano, fico revoltado. Juro que pago todos os meus impostos, uma fortuna. E, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas de chumbo na testa.
Adoro São Paulo. É a minha cidade. Nasci aqui. As minhas raízes estão aqui. Defendo esta cidade. Mas a situação está ficando indefensável.
Passei um dia na cidade nesta semana -moro no Rio por motivos profissionais- e três assaltos passaram por mim. Meu irmão, uma funcionária e eu. Foi-se um relógio que acabara de ganhar da minha esposa em comemoração ao meu aniversário. Todos nos Jardins, com assaltantes armados, de motos e revólveres.
Onde está a polícia? Onde está a "Elite da Tropa"? Quem sabe até a "Tropa de Elite"! Chamem o comandante Nascimento! Está na hora de discutirmos segurança pública de verdade. Tenho certeza de que esse tipo de assalto ao transeunte, ao motorista, não leva mais do que 30 dias para ser extinto. Dois ladrões a bordo de uma moto, com uma coleção de relógios e pertences alheios na mochila e um par de armas de fogo não se teletransportam da rua Renato Paes de Barros para o infinito.
Passo o dia pensando em como deixar as pessoas mais felizes e como tentar fazer este país mais bacana. TV diverte e a ONG que presido tem um trabalho sério e eficiente em sua missão. Meu prazer passa pelo bem-estar coletivo, não tenho dúvidas disso.
Confesso que já andei de carro blindado, mas aboli. Por filosofia. Concluí que não era isso que queria para a minha cidade. Não queria assumir que estávamos vivendo em Bogotá. Errei na mosca. Bogotá melhorou muito. E nós? Bem, nós estamos chafurdados na violência urbana e não vejo perspectiva de sairmos do atoleiro.
Escrevo este texto não para colocar a revolta de alguém que perdeu o rolex, mas a indignação de alguém que de alguma forma dirigiu sua vida e sua energia para ajudar a construir um cenário mais maduro, mais profissional, mais equilibrado e justo e concluir -com um 38 na testa- que o país está em diversas frentes caminhando nessa direção, mas, de outro lado, continua mergulhado em problemas quase "infantis" para uma sociedade moderna e justa.
De um lado, a pujança do Brasil. Mas, do outro, crianças sendo assassinadas a golpes de estilete na periferia, assaltos a mão armada sendo executados em série nos bairros ricos, corruptos notórios e comprovados mantendo-se no governo. Nem Bogotá é mais aqui.
Onde estão os projetos? Onde estão as políticas públicas de segurança? Onde está a polícia? Quem compra as centenas de relógios roubados? Onde vende? Não acredito que a polícia não saiba. Finge não saber.
Alguém consegue explicar um assassino condenado que passa final de semana em casa!? Qual é a lógica disso? Ou um par de "extraterrestres" fortemente armado desfilando pelos bairros nobres de São Paulo?
Estou à procura de um salvador da pátria. Pensei que poderia ser o Mano Brown, mas, no "Roda Vida" da última segunda-feira, descobri que ele não é nem quer ser o tal. Pensei no comandante Nascimento, mas descobri que, na verdade, "Tropa de Elite" é uma obra de ficção e que aquele na tela é o Wagner Moura, o Olavo da novela. Pensei no presidente, mas não sei no que ele está pensando.
Enfim, pensei, pensei, pensei. Enquanto isso, João Dória Jr. grita: "Cansei". O Lobão canta: "Peidei".
Pensando, cansado ou peidando, hoje posso dizer que sou parte das estatísticas da violência em São Paulo. E, se você ainda não tem um assalto para chamar de seu, não se preocupe: a sua hora vai chegar.
Desculpem o desabafo, mas, hoje amanheci um cidadão envergonhado de ser paulistano, um brasileiro humilhado por um calibre 38 e um homem que correu o risco de não ver os seus filhos crescerem por causa de um relógio.
Isso não está certo.


A CARTA DE FERRÉS, O RAPPER

ELE ME olha, cumprimenta rápido e vai pra padaria. Acordou cedo, tratou de acordar o amigo que vai ser seu garupa e foi tomar café. A mãe já está na padaria também, pedindo dinheiro pra alguém pra tomar mais uma dose de cachaça. Ele finge não vê-la, toma seu café de um gole só e sai pra missão, que é como todos chamam fazer um assalto.
Se voltar com algo, seu filho, seus irmãos, sua mãe, sua tia, seu padrasto, todos vão gastar o dinheiro com ele, sem exigir de onde veio, sem nota fiscal, sem gerar impostos.
Quando o filho chora de fome, moral não vai ajudar. A selva de pedra criou suas leis, vidro escuro pra não ver dentro do carro, cada qual com sua vida, cada qual com seus problemas, sem tempo pra sentimentalismo. O menino no farol não consegue pedir dinheiro, o vidro escuro não deixa mostrar nada.
O motoboy tenta se afastar, desconfia, pois ele está com outro na garupa, lembra das 36 prestações que faltam pra quitar a moto, mas tem que arriscar e acelera, só tem 20 minutos pra entregar uma correspondência do outro lado da cidade, se atrasar a entrega, perde o serviço, se morrer no caminho, amanhã tem outro na vaga.
Quando passa pelos dois na moto, percebe que é da sua quebrada, dá um toque no acelerador e sai da reta, sabe que os caras estão pra fazer uma fita.
Enquanto isso, muitos em seus carros ouvem suas músicas, falam em seus celulares e pensam que estão vivos e num país legal.
Ele anda devagar entre os carros, o garupa está atento, se a missão falhar, não terá homenagem póstuma, deixará uma família destroçada, porque a sua já é, e não terá uma multidão triste por sua morte. Será apenas mais um coitado com capacete velho e um 38 enferrujado jogado no chão, atrapalhando o trânsito.
Teve infância, isso teve, tudo bem que sem nada demais, mas sua mãe o levava ao circo todos os anos, só parou depois que seu novo marido a proibiu de sair de casa. Ela começou a beber a mesma bebida que os programas de TV mostram nos seus comerciais, só que, neles, ninguém sofre por beber.
Teve educação, a mesma que todos da sua comunidade tiveram, quase nada que sirva pro século 21. A professora passava um monte de coisa na lousa -mas, pra que estudar se, pela nova lei do governo, todo mundo é aprovado?
Ainda menino, quando assistia às propagandas, entendia que ou você tem ou você não é nada, sabia que era melhor viver pouco como alguém do que morrer velho como ninguém.
Leu em algum lugar que São Paulo está ficando indefensável, mas não sabia o que queriam dizer, defesa de quem? Parece assunto de guerra. Não acreditava em heróis, isso não!
Nunca gostou do super-homem nem de nenhum desses caras americanos, preferia respeitar os malandros mais velhos que moravam no seu bairro, o exemplo é aquele ali e pronto.
Tomava tapa na cara do seu padrasto, tomava tapa na cara dos policiais, mas nunca deu tapa na cara de nenhuma das suas vítimas. Ou matava logo ou saía fora.
Era da seguinte opinião: nunca iria num programa de auditório se humilhar perante milhões de brasileiros, se equilibrando numa tábua pra ganhar o suficiente pra cobrir as dívidas, isso nunca faria, um homem de verdade não pode ser medido por isso.
Ele ganhou logo cedo um kit pobreza, mas sempre pensou que, apesar de morar perto do lixo, não fazia parte dele, não era lixo.
A hora estava se aproximando, tinha um braço ali vacilando. Se perguntava como alguém pode usar no braço algo que dá pra comprar várias casas na sua quebrada. Tantas pessoas que conheceu que trabalharam a vida inteira sendo babá de meninos mimados, fazendo a comida deles, cuidando da segurança e limpeza deles e, no final, ficaram velhas, morreram e nunca puderam fazer o mesmo por seus filhos!
Estava decidido, iria vender o relógio e ficaria de boa talvez por alguns meses. O cara pra quem venderia poderia usar o relógio e se sentir como o apresentador feliz que sempre está cercado de mulheres seminuas em seu programa.
Se o assalto não desse certo, talvez cadeira de rodas, prisão ou caixão, não teria como recorrer ao seguro nem teria segunda chance. O correria decidiu agir. Passou, parou, intimou, levou.
No final das contas, todos saíram ganhando, o assaltado ficou com o que tinha de mais valioso, que é sua vida, e o correria ficou com o relógio.
Não vejo motivo pra reclamação, afinal, num mundo indefensável, até que o rolo foi justo pra ambas as partes.

tabus...

E por falar em guetos....

Xá rolar

Vamos, então, deixar rolar
se isso alegra teu coração.
Talvez as coisas mudem
o país melhore
o inverno seja menos intenso
a primavera mais florida
a vida fique mais comprida
e a gente sorrindo mais

Talvez a gente se encontre mais
brigue menos
se entenda melhor

Talvez dispensemos os conselhos
desenrolemos os novelos
tenhamos menos dor nos joelhos
e sejamos menos velhos
se isso alegra teu coração

Talvez não fiquemos mais só nos beijos
talvez se incendeiem nossos desejos
talvez o amor floresça refloresça apareça cresça

Se isso alegra teu coração
que seja!

A tal da violência

Há pesquisas por aí que apontam:
1. a pobreza não é a razão da violência. Lugares mais pobres do que o Brasil têm índices de violência menores.
2. lugares dominados pelo tráfico tem maior índice de violência do que outros onde o tráfico não existe.
3. quem sustenta o tráfico é o cara que consome drogas, o que usa droga pra lazer. esse incentiva a violência nos guetos e, eventualmente, é vítima dela na esquina do bairro nobre.
4. álcool é droga e é legalizado.
5. não existe tráfico de álcool, embora o álcool seja uma droga consumida nos guetos onde o tráfico impera.
6. não seria o caso, então, de liberalizar as drogas???? isso não minaria o tráfico??? minado o tráfico, não minaria a violência????
Talvez a solução não esteja inteira aí, e acho que não está, mas...

Deu no terra.com.br, no uol.com.br, na globo, na pqp

Luciano, o Huck, foi assaltado em São Paulo quando, após tomar um cafezinho, levaram-lhe o rolex de 48 mil que a esposinha querida lhe havia dado de presente.
Tirando a ignorância do rapaz, por usar um objeto desses no meio das ruas quentes de São Paulo - isso é pior que dar milho pra bode, é dar o milharal inteiro! - Luciano, o Huck, escreveu uma carta que foi publicada na Folha. O Jornal meio que permitiu uma resposta dada por Ferrés, sobre a outro lado. O do assaltante...
E Luciano, o Huck, em sua carta, procura o salvador da pátria. Queria isso em Mano Brown...
Na verdade, cá prá mim, o salvador da pátria talvez seja Luciano, o Huck. Assim que ele compreender o texto de Ferrés. Talvez Luciano, o Huck, devesse escutar mais o Mano Brown e tentando entender a letra. Talvez devesse caminhar pelos guetos desse país para entender de onde vem o motivo que leva um garoto a pegar um 38 e assaltar um Mané que anda com um relógio de 48 mil pelaí. Luciano, o Huck, quis é aparecer... Apareceu!
Só acho que não entendeu nada.
O que é uma pena. Ele poderia mudar um pouquinho o programa babaca que comanda todo final de semana. E aí, quem sabe, fazer a parte dele de salvador da pátria.
É isso o que acho.

PS: Fui assaltado três vezes. De mim levaram pouco mais de cem reais em duas dessas vezes. Na outra só levaram a grana do banco no qual trabalhava, muito embora tenha ficado boa parte do tempo com uma automática com nove balas no pente e uma na agulha, destravada, encostada na minha barriga enquanto um caixa assustado, abria o cofre... Mesmo assim, não concordo com o que diz Luciano, o Huck, em sua carta. O buraco é mais embaixo, Luciano, é mais embaixo.

Salvo da fogueira - 4

HERÓI MORTO

Onde andava você
quando eu ainda era pequeno
e tudo me parecia complexo demais
tudo pra mim estava longe demais
e teu mundo não fazia parte do meu

Sei que andava nas ruas
no meio das bombas de gás
que teu peito tinha forças pra gritar
e gritava esquecendo as lágrimas
teu mundo pedia teu grito
tua garra teu fôlego de gato

Sei que esteve nas cadeias
que nos porões da ditadura
os cães latiam na tua frente
e que você entregou os amigos
todos entregavam
sei das duras torturas amargas
ninguém é de ferro e ficam marcas

Onde anda você
hoje que entendo o teu mundo
e sei que ele também sempre foi meu
não quero acreditar que você morreu
não quero acreditar que te mataram

Sei que anda pelas ruas
no meio das mesma pessoas
e que elas não reconhecem teu rosto
você nunca esteve sozinho, irmão
e teu mundo chora teu grito
e pede tua raça tua nova vida de gato.

Salvo da fogueira - 3

INFÂNCIA I

Trago no sangue o ato consumado tantas vezes, gritei desesperada e euforicamente:
- MÃOSAOZER!!!!
E fuzilei a todos, sangrentamente na minha imaginação.

INFÂNCIA II

Chupada a manga, restam os fios entre os dentes e as bochechas sujas e grudentas.
Grita "merda!"
O tapa estala na cara.
"Não diz isso, moleque!"
E resta o choro pra sujar um pouco mais a cara já tão suja.

INFÂNCIA III

A faca, o corte na ponta do dedo, o sangue, o choro, a mãe, o band-aid, o "com faca não se brinca".
E nas rodas de amigos, nas quentes noites de verão, a estória inventada na hora e contada com peito estufado:
- Foi numa briga na escola!!!

4 de out. de 2007

A voz do povo é a voz de Deus!!!!

A poesia esquecida

Quando

Entre um verso e outro

Alguém me aplaude

Interrompo!

Peço que parem.

Não há necessidade de aplauso

Para a poesia.

Menos ainda para o poeta.

Isso é o que direi

quando

Em algum lugar do planeta

Eu estiver a recitar meus versos

E for aplaudido.

Enfatizarei!:

Quando escrevo

Escrevo para meus olhos apenas.

Escrevo porque sou egoísta

E a mim

Isso basta.

Escrevo porque preciso.

Preciso que as palavras saiam

Preciso dessa entrega

Preciso

Depois

Ler e reler a minha poesia:

Não fui eu que a escrevi!

Então não aplaudo

Encosto o papel em algum canto

Até que o tempo mude a sua cor

E fique assim:

Cor do tempo!

Porque é pra isso que se escrevem poesias:

Para nada!

Para que fiquem esquecidas em algum canto da casa

Ou da alma!

Silêncio

Silêncio!

De novo o silêncio.

O silêncio me atormenta

Me inquieta

Me incendeia a alma

E me afoga em dúvidas.

Não sei se o silêncio é certeza

Ou reflexão.

Não sei se o silêncio é calma

Ou desespero.

Não sei se do silêncio espero algo

Não sei se, em silêncio,

Me afogo em álcool.


Prefiro a discórdia

Os gritos

As revoltas claras

Do que o silêncio que mergulha

tudo à volta

Em espera...

Prefiro o não, a negação,

o desconforto do esquecer

Do ter que esquecer

Do que o silêncio que nada nega

Mas nada aprova.

Prefiro as palavras ditas

Mal ditas

Repetidas à exaustão

Prefiro o sussurro

Ao pé do ouvido

O arrepio

O tesão

Do que

do silêncio

O urro

O murro!

O que importa é a rima

2 de out. de 2007

Mudo!

Mudo minha maneira de escrever,

Controlo minha ansiedade,

Fico mudo.

Antes,

Ansiava pelo resultado.

Jamais poderia escrever uma novela,

uma peça teatral,

um conto.

O fim teimava em iniciar a trama.

Me acalmo.

Controlo-me.

Penso nas palavras.

Examino-as, procuro rimas,

vírgulas...

Tempo e poesia.

Tempo é poesia.

Poesia é tempo.

Poesia e tempo.

Brinco com as palavras...

Confesso:

ainda tenho enorme dificuldade com a métrica.

Mas tudo é questão de tempo.

Mudo minha maneira de escrever

E me torno mais completo.

Menos mudo.

Quase tudo!

Chega!!! - (por Neto)


Chega!!!

Chega de imprensa parcial, factóide e imbecil

Que nos julga ignorantes.

Chega de jornalistas que só dizem sim ao patrão.

Chega de falta de informação.

Chega de ex-senadores e ex-presidentes e senadores presidentes com filhos esparramados pelo mundo global mantidos no anonimato da parcialidade.

Chega de caixa dois tucano, de criadouros de valeriodutos e outros esquemas que nos sugam o sangue.

Chega da hipocrisia daqueles que insistem em fingir que isso não existe.

Chega da cumplicidade que se esconde atrás da suposta imparcialidade. Omitir, mentir é mais do que ser parcial: é ser cúmplice. É ser co-autor no crime. É ser tão criminoso quanto!

***

Chega de falsas solidariedades, de meia solidariedade, de solidariedade nenhuma.

Chega.

É preferível nenhuma do que as falsas...

Chega dos que fazem favor e cobram retorno.

Chega dos que doam mas querem continuar donos.

Chega da hipocrisia do menosprezo. De achar que os problemas alheios são pequenos, que é fácil resolvê-los.

É fácil falar.

Difícil é viver!

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Chega de sonhos roubados.

Chega.

"Quem não dormiu num sleepinbag nem sequer sonhou e o sonho acabou."

Chega de amores impossíveis.

De beijos roubados.

De viver pela metade.

Chega de medos.

"O medo de amar é o medo de ser livre".

Chega de confundir amor com solidez econômica. Chega da hipocrisia dos medrosos.

O amor é a libertação!

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Chega de pobreza.

Da pobreza de espírito e da pobreza generalizada que enrosca nos morros, nos guetos os menos favorecidos, os excluídos, os pretos, os feios, os que nasceram sem sorte, os que não têm acesso à saúde, educação, trabalho...

"O luxo é para todos".

E quem gosta de periferia é Regina Casé...

Chega da hipocrisia dos que se dizem preocupados mas se protegem atrás de muros eletrificados.

"A sociedade é criminosa" e desonesta com a maior parte da própria sociedade.

Chega de hipócritas!





: citações - "...quem não dormiu..." - Gilberto Gil

"...o medo de amar..." - Beto Guedes e Fernando Brant

"...o luxo é para todos..." - Caetano Veloso

"...a sociedade é criminosa e desonesta..." - Mano Brown