24 de out. de 2007

Salvo da Fogueira - 6

Voltar aos Dezessete

Foram tantos os sonhos
foram tantas as lutas que apareciam no caminho
eram tantas as esperanças
que jamais acreditei que um dia
chegássemos aqui como se nada tivesse acontecido.
Sem sonhos
sem lutas
sem esperanças
e sem ter colhido
ao longo de todo esse tempo
os louros de algo que pudesse nos embriagar
nos alegrar.
Os louros de uma simples vitória.

Depois de todo esse tempo
chegamos a um ponto pior do que aquele onde estávamos quando começamos.
Não temos mais a ilusão de que amigos existem aos montes
como antigamente
não temos mais sonhos
e nem sequer sonhamos que um dia alguém verá o mundo
como antigamente sonhamos.
Não temos mais lutas
e nem temos espírito de procurá-las
como mercenários
que antigamente éramos
Depois de todo esse tempo nos deparamos sós.
Não temos mais maos, lenins, trotskis,
não acreditamos mais na esquerda
nos deparamos com o caos
a direita no poder
e o país na mais absoluta merda.
Depois de todo esse tempo,
se adivinhássemos que chegaríamos a isso
talvez não tivéssemos fraquejado
talvez não tivéssemos nos embriagado tanto
com os nossos sonhos.
Talvez não tivéssemos acreditado que
se qualquer coisa desse errado
poderíamos voltar aos dezessete
e recomeçar.

Nós nunca tivemos coragem!

(1994)

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